EAD da Quarentena



Tenho lido muitos textos contendo dicas e sugestões de como passar “bem” a quarentena.

Cheguei à conclusão de que eu posso montar um curso inteiro. EAD. Educação À Distância do Isolamento em poucas lições.
Este conteúdo é fruto de um experimento forçado cujos resultados foram bons para mim. Podem não ser para você. Até porque as minhas condições de temperatura e pressão não são as mesmas que as suas. Portanto, não necessariamente destina-se a todo tipo de público.
Antes de prosseguir responda a pergunta: Eu sou minha melhor companhia?  Se for, você passou pelo primeiro estágio. Ou volte para terapia. Isso aqui é EAD.
Meu curso seria mais ou menos assim:

Aula 1. Tudo Começa pela Comida. Pessoas bem alimentadas raciocinam melhor. É altamente recomendável que você se arrisque na cozinha. Afinal, ninguém consegue pedir comida o tempo todo. Mas vá além. Inove um pouco. Mantenha o bom hábito de montar uma mesa bonita, tirar do armário aquela louça que você guarda para as visitas. E surpreenda. “Que tal um chocolatinho quente agora?” Ofereça-se para servir. Quem gosta de cozinha gosta de servir. Olhar para a expressão de felicidade de seus co-habitantes recebendo um pedaço de bolo, uma bola de sorvete, pipoca no capricho. Não fique alucinado na dieta. Vá para próxima aula.

Aula 2. Não deixe a peteca cair. Aproveite para colocar a pele para descansar um pouco e tire aquela máscara facial que você não se lembra de usar. Nunca fez um tutorial de maquiagem? Vai lá! Minha vida mudou depois que aprendi a passar delineador. Arrume-se. Não queira ser você a visão do desleixo. E cadê o exercício? “Odeio fazer exercício em casa”. Neste caso repita o mantra: “Massa magra, não me deixe”! “Massa magra, não me deixe”. Agora, se você não fazia exercícios antes, tente começar. Dê este presente de quarentena a você mesmo.
Organize suas coisas para se sentir mais organizado. Funciona. Viva em meio a limpeza e seja mais feliz. Faça parte do clube neuróticos por álcool gel mas comece pela sua casa. Tenho visto higiênicos de pandemia espalhados por todo canto. Gente que não tinha os melhores hábitos tornou-se do dia para noite o Mister Clean. Vai ao mercado em busca das últimas novidades para lavar o banheiro mas guarda aquele sapato mofado, sabe... Aliás..teremos uma wish list de produtos de limpeza nessa aula. Não deixe de ver até o final.

Aula 3. Home Office. Essa praga veio para ficar. Não gosto. Prefiro a rotina de sair de casa, colocar uma camisa branca, pegar um pouco de trânsito. Home Office é igual Cheese Cake. Queijo é queijo. Bolo é bolo. Home é Home. Office é outra coisa. Mas não tem jeito. Ou você se adapta ou vai sofrer. Muito importante manter a disciplina. Acordar cedo e mostrar-se apresentável se tiver que abrir a porta. Golden rule: providencie local e móveis adequados, do contrário você vai ter que se auto licenciar do home office por não seguir as instruções de ergonomia quando foi admitido. Caso esteja em esquema de co-working no home-office don´t-play-the-fool , já que é tudo em inglês. Evite comentar as notícias o tempo todo e pensar alto. Não tire a sua concentração e a dos outros. Faça a pausa do café. Pode até colocar uma música ambiente. Mas não abuse . Mantenha-se empregado, por favor. Será lamentável ser demitido pela própria família.

Aula 4. Relacionamentos. Ah...essa aula virá com tutoriais, cases, vídeos do tipo “encontre o erro” e o inédito “ Meditação em 10 segundos”. Comprovadamente eficaz ao evitar tragédias.
Mas o negócio é o seguinte: se conviver 24 horas está mais difícil que 24 anos, sinto informar que o problema não está na quarentena. Resolva isso. Sem mais.
A palavra chave aqui é foco. Aproveite este tempo juntos e preste atenção. Seu companheiro/ companheira está tão vulnerável quanto você. Encapsulado como Jeannie na garrafa, mas sem poder fazer 3 pedidos. Reveja as aulas número 1 sobre comida e número 2 sobre não deixar a peteca cair . São complementares. Não se deixe contagiar negativamente pelos gritos da vizinhança. Mantenha seus rituais.
Esta aula será multiplicada em “pílulas” e editada sob o nome de “O que vai ter para o Jantar?”

Aula 5. A armadilha das vídeos-chamadas, lives e mídias sociais. A vídeo-chamada não funciona mais para mim. Talvez você não tenha se dado conta, mas este pode estar sendo um ponto de stress. É o meu caso.  Acredito que meu inconsciente guardou lembranças de reuniões passadas que vêm me assombrar quando aquele rostinho aparece na tela. É diferente de matar a saudade de seus familiares e amigos. Também não me refiro aos profissionais que estão fazendo teleatendimento e mantendo nossa saúde física e mental no meio de tudo isso. De mais a mais fico com as vozes e as letras. Muito mais eficientes. Sem contar que no mundo corporativo a vídeo-chamada nos prega peças. Meu gato adora uma vídeo-chamada. Quer participar de todas, desfilando sobre o computador. Se você não está  em um ambiente 100% controlado, evite a chamada de vídeo.
Desativei por tempo indeterminado a notificação “Fulano está ao vivo agora”. Who cares???

O que era novidade virou “mico” em muitos casos. O jargão “Quem sabe faz ao vivo” ganhou outro sentido para mim. Abuse da seletividade. Aliás isto vale para todo conteúdo. Parece que a ansiedade da informação foi elevada a centésima potência. Preciso mesmo ver todos os cursos on line, aulas de yoga e  pocket shows sem graça ? No way. Permita-se um descanso desta enxurrada.

E o tal do TikTok? A invenção mais ridícula e juvenil dos últimos anos. Não merece mais que uma linha. Ápice da vergonha alheia. Pronto falei.
Por fim, não desabafe toda a sua revolta nas mídias sociais. Você vai ler o que escreveu tempos depois e pode se arrepender. Ninguém tem bola de cristal, nem é o dono da verdade absoluta. Não crie mais stress desnecessário. Seja um otimista com os pés no chão.

Mas também não seja o último flagelo da paz, aquele que tem sempre a hashtag  #vaipassar  para carimbar na sua cara junto com o #fiqueemcasa. Estas #´s conseguiram ser pior que #juntosomosmaisfortes, de tão óbvias e repetitivas. Crie a sua hashtag. Sejamos criativos!

Eu tenho uma minha: #vivaavida. Pois se você está #emcasa, #comsaúde e #semantendo #agradeça.

Não “estamos no mesmo barco”. Estamos na mesma tempestade - expressão cunhada brilhantemente por uma amiga. A diferença é que alguns estão navegando em um iate 5 estrelas e outros se agarrando em um pedaço de canoa quebrada.

Parabéns!

Você ganhou seu certificado. Nele estará escrito abaixo de seu nome:

Faça de você sua melhor companhia. Nascemos e morremos sozinhos.




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Comentários

  1. Eu sei, minha temperatura e pressão é outra. Concordei com a maioria, especialmente sobre as mensagens piegas. Tik Tok não sei nem direito o que é.

    Mas acho que faltou uma aula sobre música. Mesmo fugindo da enxurrada virtual e sendo seletivo, tem muita coisa boa.

    Beijo

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    1. Tem razão! Sem música fica tudo mais difícil. O problema é que esta autora que voz fala é um tanto monotemática ou quase isto. Certamente o seu EAD sobre este tema seria valioso. Quanto ao Tik Tok nem perca seu tempo.
      Beijos

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  2. Não pude deixar de lembrar de você quando vi está notícia.
    https://m.panrotas.com.br/gente/movimentacao/2020/05/ex-executivo-da-disney-assume-como-novo-ceo-da-tik-tok/173608

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    1. Desejo boa sorte, mas para mim o TikTok não vai estourar. Pode no máximo ser mais uma. Acredito que o Instagram por exemplo, deve incorporar funções do TikTok. Não acho que as pessoas têm motivação para seguir várias midias nem ficar criando conteúdos segmentados. O Facebook , Instagram e o Youtube já atendem 90% da demanda.

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  3. Não pude deixar de lembrar de você quando vi esta notícia.
    https://m.panrotas.com.br/gente/movimentacao/2020/05/ex-executivo-da-disney-assume-como-novo-ceo-da-tik-tok/173608

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  4. Fico em casa sem ansiedade, embora não seja o que mais goste de fazer. Não gosto de cozinha, nem de gastar meu tempo com limpezas, mas tbm não quero ficar na bagunça e assumo os postos.Ficar em casa quando o atelier já é em casa, não muda muito a rotina. Mas socorro! Musica baixa , por favor! Adoro e necessito de silêncio e concentração.

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